quinta-feira, 10 de maio de 2012

A Dama de Espadas - Alexander S. Pushkine






Em um conto que se lê em meia hora, mas proporciona uma excelente leitura:

Uma velha condessa - Ana Fedotóvna - Esconde eu valoroso segredo para se sair vencedor de um jogo de cartas, deixando o vencedor milionário ou com a vida completamente destruída. 
Parte desse segredo será revelado entre amigos do neto desta condessa, suscitando em Hermann, um rapaz alemão, sem escrúpulos a vontade de adquirir esse bendito segredo. Por meio de Lisavete Ivanovna - uma protegida de Fedotóvna - na qual seduz com esse único intuito se desenrola este maravilhoso conto do ícone da literatura Russa.

Vale a pena conferir;)

terça-feira, 27 de março de 2012

O Idiota (Идиот)





"Por um tempo amaciado, de degelo, de fins de Novembro, cerca das nove da manhã, o comboio do caminho-de-ferro Petesburgo-Varsóvia aproxima-se a todo o vapor de S. Petesburgo."

Assim iniciamos a nossa viagem a história de DostoievskiO Idiota.

A um tempo atrás, não sei o que me deu meio a uma nostalgia imensa, assisti uma série que dava na televisão brasileira - TV Cultura - quando ainda era criança. Neste episódio, em particular, um dos subtemas era o facto de uma das personagens principais querer ser escritora e, para tal, ter em consideração a opinião de um rapaz que tinha ar de inteligência superior. Bem, mas isso não vem ao caso. O facto é que este personagem secundário – (que fora integrado apenas para esse capitulo) – dizia que para se ser um bom escritor a pessoa tinha que ter vivencia. Ou seja, tinha que ter experimentado aquilo que se pretendia passar aos leitores. O que a meu entender, visto que o personagem era um tresloucado, no qual a grande vivencia dele era ficar alheio ao real, deveria sair uma “bela obra”. Bem, lembrei disso após começar a ler Dostoievski. Claro que a vivencia de determinado tema dá à-vontade para aborda-lo, mas tem algo mais que comecei a percebe e que perpetua uma obra como a do autor de “O Idiota”. Este “porém” faz toda a diferença. Ele mesmo escreveu:

"Os escritores, nos seus romances e contos, tentam na maior parte dos casos recorrer aos tipos sociais e apresentá-los em imagens e moldes artísticos, tipos esses, que na realidade, raramente se encontram no seu estado puro mas que, apesar disso, quase parecem mais reais do que a própria realidade.”

Penso que não é só a vivência, mas a percepção da alma humana, onde nada é por acaso e ninguém tem 100% de decência na sua jornada que marca a obra deste autor e de outros com tanta qualidade. Aqui, nesta obra, não há exagero nos seus principais e secundários. Todos eles deixam marca à sua passagem por poderem – (Como o próprio autor afirma) – serem encontrados em qualquer conhecido, mesmo que de forma diluída. Seus defeitos e qualidades não são tão insuportáveis como encontramos em qualquer conhecido ou familiar.

O título O Idiota fica como algo ambíguo, pois para os russos, dependendo de seu contexto, leva significado distinto e bem antagônico: em primeiro o mais comum a nossa língua portuguesa, em que a palavra leva aquelas pessoas com comportamentos que dá a distinguir sua estupidez ou, simplesmente, sua perfeita demência por qualquer motivo. A segunda, para aquela pessoa que deixa a sua marca nas outras como um aprendizado digno de ser copiado – um professor.

Porque desde sempre procuramos os mais puros dos sentimentos em um único ser, mas, este aos olhos de uma sociedade que molda caracteres, leva a um falso entendimento do que é ser um bom homem ou um completo tolo. Aquele que enxerga o bom em tudo, ou tenta ver em tudo o bem, não pode ser considerado como dono de todas as suas faculdades. Este é Lev Nikolaivitch – o príncipe. O bom homem ao seu extremo. Aquele que tem armazenado em si todas as qualidades humanas, deixando de lado a auto preservação de que todos somos dotados, correndo muitos riscos no meio das ditas “pessoas normais”.

Das restantes personagens resta as falhas humanas, camufladas por uma falsa dignidade que consegue dobrar o sentido de sua real intenção.

Por vezes os defeitos são colocados mais de uma vez, confrontando o personagem principal de diversas maneiras. Expões de melhor forma – (mas do avesso) – “a grama do vizinho”. “Os defeitos dos nossos são sempre mais perdoáveis que os dos outros”. O julgamento de uma personalidade sem se compadecer de sua verdadeira história e dos tormentos de uma determinada alma pode levar a comportamentos absurdos, mas sem eximir a sua culpabilidade.

Desta última ideia surge Natassia Filiapovna e Aglaia Ivanovna. Que a meu ver, são duas personagens de semelhante carácter, separadas apenas por sua vivencia e posição social. A uma, tudo é perdoado pois que por de trás está uma família aparentemente bem definida e bem colocada socialmente. A outra, em nada lhe é perdoado, pois está só "entregue aos leões". Ela não se entrega e mostra que veio com  toda as suas forças para vencer e, isso, lhe faz cair em desgraça aos olhos da sociedade.

O dinheiro e companhias moldam o pensamento social...levando a uma história surpreendente e nada fantasiosa.
O Idiota é daqueles livros que te fazem pensar a cada virar de pagina, deixando um gostinho de "quero mais", levando a um final surpreendente.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A guerra dos mundos (The war of the worlds)






Não pretendo aqui fazer um estudo sobre a obra, talvez, como fiz de maneira sintética, com o livro de Bulgakov, mas apenas expressar minha opinião sobre este.

Já faz algum tempo que li este livro. Fora uma das obras que meu avô paterno me deixou como herança e que fiquei muito agradada com tal. De suas paginas amareladas pela 3ª edição de 1937, e tradução de Carlos de Souza Ferreira.


O filme baseado em H. G. Wells (1866-1946) me deixou com o gosto amargo, e ainda nem se quer tinha lido o livro. Depois que o li, passei a detestar ainda mais este trabalho (que para meu espanto pertencia a Steven Spielberg).

Os personagens do livro em nada são tão irritantes como os do filme. Na verdade não tem nada a ver.

Mas sou suspeita para falar de filmes baseadas em livros pois sempre, ou quase sempre, não me agradam.

Quanto ao livro, (que foi escrito em 1898) - não é de admirar que causou tanto reboliço no meio das populações de sua época.  

Narrado em um passado não distante, tem uma descrição surpreendente em que os cheiros, provavelmente
Nauseabundos impregnam a narina do leitor de forma a se sentir presente na época da narração.

As cenas são marcadas por forte impressão do narrador, nos transportando ao máximo para a situação vivida.

Nos sentimos na pele dele e torcemos para que o pior não aconteça.

O final não é incerto, mas nos deixa com a impressão que o "viveram felizes para sempre" não existe...mas que algo ficou para nos perturbar.

São 238 páginas de "relato" impressionante.  

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Margarida e o Mestre (Мастер и Маргарита)


Porque "os manuscritos não ardem", felizmente, hoje podemos apreciar a obra de Mikhail Bulgakov, que retrata, talvez, um sentimento de sabedoria em que o bem e o mau não se encontram em uma fronteira bem delineada e, onde nem tudo o que parece é.



Mikhail Afanovitch Bulgakov

Nascido em Kiev (actual capital da Ucrânia), em 1891, onde cresceu e se formou na escola média, antes de seguir para Universidade dessa mesma cidade e cursou medicina, graduando-se em 1916. Casado com Tatyana Lappa desde 1913, mudou-se para uma aldeia provincial, onde passou a exercer suas aptidões.

No fim da primeira guerra mundial, se alistara na Cruz Vermelha, voltando para Kiev e, no começo da Guerra Civil da Rússia integrou no Exercito Branco – (Anti-comunista), como medico, terminando no Cáucaso, onde abandonou a medicina e se dedicou ao jornalismo. Seus irmãos, integraram juntamente no Exercito Branco, sendo exilados após o término do conflito para a França. Bulgakov nunca saíra do território russo, nem quando quis, pois não lhe era concedido um visto, nem mesmo, para vizitar seus irmãos.

Em 1921, Mikhail mudou-se para Moscovo, iniciando sua vida como escritor. Divorciou-se de sua mulher e, em 1924 casou-se novamente com Yelena Shilóvskaia. Escreveu literatura cómica e romances, no qual, um dos seus sérios trabalhos é o romance "Guarda Branco", de 1924, escrito durante a Guerra Civil, onde descreve sua experiencia durante a guerra em Kiev.

Nos finais da década de 20, passa a ser acusado de anti-soviético, tendo todos os seus trabalhos censurado.

Escrevendo à Estalin para expor a sua situação como principal motivo de uma possível migração, recebera o telefonema do próprio ditador lhe negando tal pedido, mas, como o  ficou agradado de sua obra Os Turbins – ("Dni Turbinykh"), conseguira um emprego num pequeno teatro de Moscovo. Apenas mais tarde fora transferido para o Teatro de Artes de Moscovo, onde seus trabalhos não alcançaram sucesso de dimensões consideráveis. 

Também trabalhara de roteirista no teatro e companhia de ópera Bolshoi, não perdurando após conhecimento da recusa de produção de seus trabalhos.

Margarida e o Mestre demoraria doze anos a ficar completa, porém seu autor não veria a repercussão mundial que levaria seu romance ao top célebre de obras literárias da Rússia. 

Morrera em 1940, vítima de uma doença dos rins.

O Romance

O Romance Margarida e o Mestre, tem como tema central a visita do Diabo a cidade de Moscovo dos anos trinta do século XX. Época em que os soviéticos, em sua maioria, se mostravam ateus.

Sendo escrita em 1928, e depois, destruída pelo próprio autor, pouco tempo depois de saber da censura das suas obras, viria a ser, novamente, escrita em 1936, quase como o original. A 3ª parte viria a ser completada em 1937 e a quarta e ultima, apenas, quatro semanas antes da morte de Bulgakov.

A 11 de Novembro de 1966 e 1 de Janeiro de 1967, é editado na revista – Mokva – sendo uma versão censurada de até 12% (com cortes e alteração da obra). Estas partes foram publicadas na Samizdat, juntamente com todas as indicações das alterações sofridas.

Em 1967 a casa editorial Posev de Francofort edita a obra completa ajudado por esse Samizdat. Depois de muitos anos de luta, a mulher de Bulgakov, consegue que em 1973 publiquem o romance na íntegra  na revista Chudozedtvennaja literatura – completa em 1989.

Na obra encontram-se dois tempos e espaços diferentes que se intercalam no decorrer da acção, sem que o leitor se disperse do tema central. Em primeiro, nos encontramos no tempo presente do autor – anos 30 do século XX – de Moscovo, enquanto a história paralela está no tempo de Cristo em Jerusalém. Ambos num período de dias que antecedem a Pascoa.



Moscovo será o primeiro ambiente, onde o Diabo aparece para uma visita à cidade, sob a forma de Woland, um professor estrangeiro de magia negra. Acompanhado de seu séquito integrado por indivíduos muito particulares: Korovi’ev ou Fagot, no qual sempre vestido de maneira grotesca; o gigante gato preto, Behemot; Azazallo, de um grande dente canino; Abbadona e Hella, a bela serva que aparece sempre nua.
Os efeitos dessa inesperada visita não colocará em loucos apenas os personagens que os rodeiam, como toda a cidade.
Tanto personagens principais - aqueles que intitulam a obra como os secundários terão uma experiência inesquecível onde toda a sua convicção e sonho será posto a prova.   

Locais da acção


·         Moscovo  


Lago do Patriarca
    A obra de Mikhail Bulgakov, realiza uma dança interessante entre o sobrenatural e a realidade, quando seus personagens têm como palco a real Moscovo de sua época. A história começa no Parque Lago do Patriarca, onde o Diabo flagra a conversa anti-religioza de Bezdomni e Berlioz.

Berlioz irá morrer perto deste parque e, Ivan - Bezdomni - iniciará uma perseguição ao bando de Woland, pelas proximidades: Spiridonovka até o portão Nikitsky, onde o grupo perseguido se dispersa. Iva perseguirá Woland atravéz da Bolshhaya Nikitskaya/Hertzen ST baixa do anel Boulevard até o Parque Arbat.


Praça Arbat


Atravez de Ostozhenka até a casa ao lado, numero 13, Apt. 47, que segue uma calçada de granito até o rio Moscovo.

Após a referencia ao outro tempo e espaço da obra - Jerusalem, vamos de encontro ao malfadado apartamento número 50 do bloco 302b, pertencente, na obra, à Berlioz e Likoedeev. Bulgakov viveu neste apartamento entre 1921 e 1924, hoje transformado em museu. Este será o local onde o Diabo e seu séquito permaneceram instalados durante sua estadia por Moscovo e, será no Teatro Variedades, que suas peripecias começarão a se desenrolar. Actual Teatro de Sátira, antigo Music-Hall dos anos 20.



Antes mesmo da aparição do apartamento, indo por Tverskoy Boulvar, uma longa alameda arborizada, dividida por um parque, no número 25, pode se ver uma mansão amarela de nome Herzen, que no romance de Bulgakov poderia ter sido o Clube Literario MASSOLIT. Está casa já abrigou diversas associações literárias, inclisive na época do Comunismo, e desta forma, ter inspirado o autor.

Na segunda parte da obra, iremos encontrar Margarita em seu luxuoso lar, que se pensa ser a actual sede de um banco na Praça Arbat. No jardim Alexander, onde a muralha do Kremlim margeia, Azazelo irá abordar Margarita e, lhe fazer a proposta de conhecer Woland. A aventura de Margarita começa , assim que obedece as indicações de Azazelloe tomada pela nova emoção que o creme magico dado pelo demonio lhe fornece, partindo sobre a cidade. Sua primeira paragem: Maly Vlasevskii 9a, atravéz de Divtsev Vrazhek por Koloshin pereulok, para Arbat e o teatro Vakhtangov. Segue St. Nikolopeskovskii para o prédio Dramlit. 

E por fim, antes do descanso final dos protagonistas, A cave onde vivia o Mestre:





·         Jerusalém

mapa 1
mapa 2

     O segundo local de acção desta obra, refere-se a um romance dentro do próprio romance. Ali estamos na época de Cristo e temos como protagonistas - Ieshua e Poncio Pilatos. E iniciamos a história destes personagens com a narrativa de Woland, no palacio de Heródes - (mapa 1 - em amarelo) - onde Pilatos terá seu primeiro contacto com Yeshua Ha-Nozri, que era acusado de fazer amotinação no Jardim de Gethsemane - (mapa 2 - a verde).  Ainda no mapa 2 pode-se ver em rosa a cidade baixa, no qual Niza seduz Judas e, em amarelo, a Fortaleza antonina, onde Afranio faz uma pequena paragem após a vizita de reconhecimento e intruções à Poncio Pilatos. Já no capitulo 26, após a crucificação de Yeshua no Monte Calvario. No livro o local não fica geografico onde irá decorrer a crucifixação verdadeira. Pela indicações por onde passa as tropas para o evento ficam-se pela saída ocidental - Portão de Hedron, sendo que a localização exacta do Monte Calvario é ao Norte, como mostra o mapa 3. 


mapa 3


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Margarida e o Mestre, como uma grande obra que transcende o tempo, abordando temas sempre atuais, em que a fantasia se integra perfeitamente no real, consagra o autor como um dos maiores escritores de sempre.
Privilegiada com essa leitura, senti-me impulsionada para o conhecimento de novas obras russas e ucranianas. Bulgakov, como uma "porta dupla ornamentada de magia e mistério" atrai a um mundo, que infelizmente, se encontra encoberto aos olhos ocidentais. Como quase tudo que acontece na atualidade a "cultura de massa" devora o pouco tempo da juventude, não deixando perceber o simples prazer de se envolver com uma boa leitura.

Margarida e o Mestre, na minha opinião, é a melhor forma de se inteirar da cultura e realidade russa de sua época, e do mundo de hoje que conserva os mesmos problemas, ainda, encapuzados pelas mesmas forças de sempre, muito bem retratadas, na agradável sátira social, que brinca em harmonia com os temores da crença cristã, por flagrarem e mostrarem o rosto real de toda sociedade.

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Por norma não gosto de filmes baseados em livros. Mas admito que há filmes bem conseguidos. Um deles é o que passo a expor aqui. Foi dividido em parte, então colocarei aqui apenas a 1ª parte que encontrei na net legendado em inglês: (Espero que gostem)